"As palavras têm um valor e reestruturar a dívida sempre significou -- e há alturas em que isso é absolutamente necessário -- declarar uma derrota. E, ao declarar uma derrota, arrumamo-nos num patamar de grande dificuldade. A minha posição é a de que não estamos nessa situação", afirmou Augusto Mateus em entrevista à agência Lusa..Para o antigo ministro da Economia, o que está em cima da mesa é o país ter "capacidade de crescer a um ritmo que permita garantir, com tranquilidade, os pagamentos em relação à dívida contraída".."Isso é possível desde que percebamos que o essencial é criarmos condições para podermos melhorar e não declararmos a nossa derrota", disse o professor universitário, sublinhando a importância do "bom investimento" neste processo..Augusto Mateus defende a necessidade de Portugal "alterar progressivamente o custo e o prazo da dívida", mas considera que "não é preciso ninguém dizer nada sobre isso [porque] toda a gente sabe" e entende que isso é diferente de reestruturar a dívida, que "significa sempre um corte com um processo"..O antigo governante entende que Portugal teria muito a perder se optasse por um pedido de reestruturação da dívida pública, que se iria refletir tanto nos juros como na confiança dos mercados.."O que é que nos traria um caso extraordinário de reestruturação de dívida? Duradouramente juros mais altos -- mais baixos do que aqueles em que incorremos no passado recente, mas altos em relação aqueles que podemos alcançar -- e uma tutela permanente sobre a nossa política económica", adverte..De acordo com Augusto Mateus, Portugal ficaria "sempre condenado a uma situação em que o essencial da economia portuguesa era honrar os novos acordos sobre a dívida" e em que "o esforço era para pagar dívida"..Por isso, o economista rejeita "começar a fazer contas" como se o país fosse incapaz de produzir riqueza..Augusto Mateus realça que Portugal "não tem outro caminho que não seja o de equilibrar a sua força com a força dos credores e [que] é essencial para Portugal ter menos tutela dos credores sobre as suas decisões de política económica"..Augusto Mateus diz que põe "o acento tónico não na dívida, mas na capacidade de investir e de gerar crescimento económico", porque é isso que dá ao país "margem de manobra para fazer acertos na dívida muito maiores do que se [pedisse] um caso extraordinário de reestruturação de dívida"..O professor universitário critica também os "pseudo-keynesianos", considerando que olham para as finanças públicas como um instrumento funcional, cuja gestão se pode adaptar à conjuntura.."O mundo está cheio de pseudo-keynesianos que acham que as finanças públicas devem ser funcionais: se estou atrapalhado, aumento o défice; se estou bem, baixo o défice. Isso é história, não tem qualquer aplicação na atualidade, embora seja popular dizer essas coisas", criticou..Para Augusto Mateus, é preciso ter finanças públicas sustentáveis, que "permitam aos Estados cumprir as suas obrigações constitucionais", mas também ajudar a sociedade a ser "mais equilibrada e mais dinâmica", mas ao mesmo tempo "com contas que se fazem no médio/longo prazo e não com contas que se fazem no curto prazo"..O que há a fazer -- na visão do economista -- é aumentar a taxa de poupança das famílias e capitalizar as empresas, uma vez que o problema da dívida não se confina ao Estado..Augusto Mateus destaca que, "no auge desta festa insustentável", o país chegou a ter uma taxa de poupança inferior a 6%, um valor que está agora próximo dos 12% em linha com a média europeia, embora já haja "um sinal de ligeira redução que conviria evitar"..Outra proposta apresentada pelo economista é o lançamento de "medidas fiscais para ajudar as pessoas a poupar", acompanhado de um "programa ousado de capitalização das pequenas e médias empresas, para que possam crescer e investir"..Tudo isto, combinado com um "jogo continuado de rigor e de criação de finanças públicas sustentáveis", defende.